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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Ti-Glória do Xaréu...

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O cheiro a flor de tília era intenso naquela tarde de Maio... As tileiras estavam no auge da floração e o Largo da Senhora da Boa Morte respirava vida... A garotada enchia os degraus do velho Cais e dando banho à minhoca lá iam tirando uns robaquitos... o Luís da Viela dos Padres já tinha o balde quase cheio! Era o mais hábil a colocar a bicha no anzol e cada mergulho cada peixito! Um grupo aproximou-se, espreitou a pescaria e seguiu em direção à Alameda de Paredes mas ficou-se logo ali na tasca da Ti-Gloria do Xaréu onde entraram. “Boa tarde Glória!” quase disseram em uníssono! “Boa tarde rapazes!” respondeu-lhes a ti-Gloria detrás do balcão enquanto punha quatro copos de meio marquês à frente deles. “ Branco ou tinto” perguntou... “Bota tinto que se aproveita a cor” disse o Arcanjo a sorrir! “Então o que tens hoje para petiscar?” perguntou o Eugénio. “Tenho um arroz de coelho a sair....” “É isso mesmo” disse o João. “Então subam lá para cima que já lá vou por a mesa!” O Vitorin...

Pastel de Águeda... Da Ti-Quitéria ao forno da Loura e ao fogão da Gininha...

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Pastel de Águeda... Contributo para a sua história... Da Ti-Quitéria ao forno da Loura e ao fogão da Gininha... A disputa da paternidade ou maternidade do Pastel de Águeda vem dos fins do sec. XIX primórdios do século passado... Se era folhado ou de caixa só a Ti-Quitéria o poderia dizer, pois foi ela quem trouxe a receita do Convento de Jesus em Aveiro... ou terá sido do Mosteiro de Lorvão, onde dizem ter sido serviçal?... Bem, que a sua origem é conventual, ninguém dúvida!... Senão atentemos para os produtos usados na confeção do seu recheio: amêndoa, ovos, açúcar e vejamos o cuidado na preparação da massa da caixinha, que deverá ser tão fina que se possa ver o recheio à transparência... Pois a Ti-Quitéria transmitiu essa receita a suas irmãs, uma delas sendo madrinha da Libânia “Loura” Guerra, não tardou a transmitir-lhe a receita para que esta os começasse a confecionar no forno dos Guerra na Rua da Cancela... O Tavares Candeeiro, arguto comerciante da nossa praça, não tardo...

Nas asas do vento...

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O vento traz-me noticias, Notícias do ocidente... O vento traz-me notícias... Novas lá da minha gente e Saudades como carícias Que cá longe já se sente! O vento traz-me notícias, Da serra, dos pinheirais... Faz-me lembrar as delícias Dos prados e milheirais. No vento vêm notícias, Coisas boas e outras mais... Mas este vento gostoso, C’um cheirinho a melancolia, Vem de certo do Ventoso, Da casa da Confraria... Alegrem-se almas serranas! Vivam este lindo dia! Mostrai mentes ufanas! Exortem de alegria! Deixai a vossa canseira... E com grande devoção, Honrai a Padroeira... Senhora da Conceição! O vento traz-me notícias... De doces aromas sem fim... Saudades como carícias... Rosmaninho e alecrim. O vento traz-me notícias! O vento chama por mim!... João Carlos Breda Macau, 3.Dezembro.2015

As armações do Crespo!...

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A manhã estava fresca e o sol brilhava timidamente... A caminho das Barreiras não era fácil seguir as passadas de meu pai. Os meus dez anos ainda não permitiam tal andamento... Mas lá ia... e quase que nem dava para apreciar o pinhal frondoso que nos ladeava pela esquerda nem aquele curioso e alto muro todo feito de pedrinhas que nos acompanhava pela direita... Quando chegamos a casa do primo Manuel já este havia semeado no pinhal fronteiro à sua casa as peças dos arcos da nova armação que iria ornamentar as romarias e festas da região, já com início na segunda-feira de Páscoa com a Festa do Pau em Assequins em honra de Nossa Senhora da Graça... Todos os anos era necessário renovar e restaurar as armações... As deste ano seriam bem coloridas com grandes florões enlaçados por uma ramagem verde e as laterais retangulares com elegantes garças bailando... Eram decorações idealizadas por meu pai que, cuidadosamente, desenhava no pano cru das diversas peças com o auxílio de moldes de cartã...

Sardinhas cor da prata!

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A ti-Zefa na sua banquinha do peixe à porta da venda controlava a pouca freguesia mergulhada na sua cegueira... A garotada corria pela rua perseguindo o camisola amarela que com um pausito fazia rodar um velho e ferrugento aro de bicicleta... um brinquedo de luxo no bairro de S.Pedro... Maria aproximou-se da banca do peixe e perguntou pela sardinha. Ti-Zefa reconheceu a voz da freguesa e questionou: “ Vieste cá cima Maria? Quantas queres? Hoje está barata!” “Vim, vim cá trazer um carrego de mato! Olhe, conte quatro, uma para mim outra para o garoto e duas para o meu Reinaldo que foi trabalhar para Rio Côvo e deverá vir esfomeado”. O bairro de S.Pedro era naquele tempo uma única rua... começava na Capela do Santo Chaveiro do Céu, que dava o nome ao bairro, e acabava na linha do comboio do Vale do Vouga. Havia ainda as lapas mas poucos por lá viviam ainda... Mas o bairro tinha uma fábrica que dava emprego a uma dezena de locais... era a fábrica dos bonecos, a olaria do Sr. Constan...

Berbigão ao Botaréu!

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A tarde caía lenta naquele dia de fim de verão... Um aroma a café torrado inundava a rua de cima que aquela hora apresentava poucos transeuntes, não fora um grupo de militares de farda cinzenta e pasta na mão regressando das aulas do seu curso na Escola Central de Sargentos. Vinham a caminho dos seus quartos nas pensões daquela rua... a Pereira, a Central e a Santos... e a outras nas ruas e praças vizinhas. Muitos desses militares, oriundos dos mais diversos pontos do País, optaram por trazer as famílias e viviam em casas alugadas. O aparecimento destes cursos na Escola de Sargentos e a vinda desses militares e famílias deram outra vida a nossa Vila, pois pré certo e a horas na carteira, originaram um aumento no custo de vida do burgo... “A culpa é das sargentas!”, ouvia-se amiúde dizer, quer na praça ao sábado, ou diariamente na banca do peixe ou no talho. Nota histórica: “A Escola Central de Sargentos criada em 1896, junto à Escola Prática de Infantaria em Mafra. A ECS tinha por...