Berbigão ao Botaréu!

A tarde caía lenta naquele dia de fim de verão... Um aroma a café torrado inundava a rua de cima que aquela hora apresentava poucos transeuntes, não fora um grupo de militares de farda cinzenta e pasta na mão regressando das aulas do seu curso na Escola Central de Sargentos. Vinham a caminho dos seus quartos nas pensões daquela rua... a Pereira, a Central e a Santos... e a outras nas ruas e praças vizinhas. Muitos desses militares, oriundos dos mais diversos pontos do País, optaram por trazer as famílias e viviam em casas alugadas. O aparecimento destes cursos na Escola de Sargentos e a vinda desses militares e famílias deram outra vida a nossa Vila, pois pré certo e a horas na carteira, originaram um aumento no custo de vida do burgo... “A culpa é das sargentas!”, ouvia-se amiúde dizer, quer na praça ao sábado, ou diariamente na banca do peixe ou no talho.
Nota histórica: “A Escola Central de Sargentos criada em 1896, junto à Escola Prática de Infantaria em Mafra. A ECS tinha por missão habilitar os sargentos ao posto de sargento-ajudante para depois poderem ascender aos postos de oficial de infantaria, cavalaria e Quadro de Praças de Guerra e Almoxarifes. Em 1926, a ECS foi transferida para Águeda, ocupando o quartel do antigo 3º Batalhão do Regimento de Infantaria n.º 28. Com a criação do Quadro Auxiliar dos Serviços do Exército (QSAE) em 1933, os sargentos que terminam a frequência da ECS passam ingressar como oficiais dquele quadro, deixando de ingressar nas armas e serviços de origem. Em 1955, são criados dois cursos destinados a preparar o pessoal para a manutenção, conservação e reparação de material. A 4 de Fevereiro de 1966 foi feita Membro-Honorário da Ordem Militar de Cristo.[1] Em 1977, a ECS é transformada em estabelecimento de ensino superior passando a denominar-se "Instituto Superior Militar". Nessa altura passa também a dar formação a militares da Força Aérea Portuguesa. O ISM foi desativado no início da década de 1990.”
O Ribeiro das fazendas regressava à sua loja depois de tomado o seu habitual pingo no café Santos... Na soleira da taberna, ti-Augusto Zica ajeitava o boné e mordiscava a pirisca... de repente falou alto para o interior da tasca: “Ò Gia, começa a preparar os “quericos” que a rapaziada da fábrica da loiça já vem na Praça Nova...” “Oh homem, a Zulmira já tem a cebola o alho e o azeite no tacho, quantos eles chegarem é só aloirar a cebola e meter o berbigão e eles abrem num instante... “ respondeu-lhe D. Gia, “depois é só ver de sal, um suco de limão e no fim um raminho de salsa por cima...”
Com alvoroço a rapaziada entrou na taberna e o ti-Augusto Zica, limpando a testa com o boné, indicou-lhes uma mesa corrida dizendo: “sentem-se que já vos levo um jarro do faísca para limparem o pó do barro das gargantas”... “Um só ?” perguntou um deles, “é melhor trazer já duas picheiras”... A Zulmira dizia à D.Gia que o berbigão já estava aberto e antes que esta lhe metesse o ramo da salsa, ti-Augusto Zica verteu-lhe meio jarro de vinho branco e dois frutinhos vermelhos e disse: “deixa apurar”... O tacho fumegante não tardou a ir para mesa e a rapaziada consolou-se com o apreciado pitéu. Foram dos primeiro a chegar nesse ano e como habitual da beira-mar num carroça puxado por um jumento. Na verdade, nessa manhã ouviu-se o búzio logo seguido do pregão: “Berbigão ao Botaréu!” Retalhos de Águeda Antiga By João Carlos Breda

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