A mulher de Águeda na cozinha regional e doçaria do Séc.XX


O desenvolvimento industrial de Águeda e a vinda para a Vila da Escola Central de Sargentos, com seus alunos e famílias, causaram um incremento a nível da restauração e hotelaria no início do séc. XX.

As tavernas e casas de pasto já eram muitas mas com a abertura de cerca de uma dezena de pensões e hospedarias só na baixa de Águeda revolucionam a oferta satisfazendo a clientela crescente tanto dos forasteiros que visitavam a fluorescente indústria da região como satisfazendo os sargentos e a população laboral local. Nestas salientaram-se a Pensão Santos, a Central, a Brinco, a Matilde, a Beira-Rio e a Hugo, onde o nome das cozinheiras ou o das donas das mesmas se salientava pela arte de cozinhar, como é o caso da Dona Maria Joana na Rua de São Bento (Pensão Beira-Rio, casa de pasto e taverna), da Dona Maria Brinco, da Dona  Gia da Central, com a sua dedicada cozinheira Zélia de Bolfiar e em cuja tasca o marido Augusto Zica, pontificava com o branco “faísca” e não nomeio a da Casa Santos (Pensão), nem da Matilde, mais tarde Negrão ou da Morais, por não ter presente os nomes das cozinheiras que regalavam a barriga dos comensais diários ou das jantaradas e bodas que lá se serviam mas, e para terminar, falo da Dona Madalena Balreira da Pensão Hugo, ali junto à estação do comboio!

Mas houve lugares iconicos pelos petiscos lá servidos como era o caso do Cimbalino hoje Canal 7 e para isso elogiar as esposas dos tasqueiros que marcaram o seu tempo caso da Dona Graziela com o marido Carlos, da Dona Graciete com o marido Gil (Pauliceia) e da Esterinha com o Óscar (Ribeirinho)… ou da taverna da Ti-Virginia junto à cadeia ou da Ti- Maria Benta, que vendia as melhores sandes de tripas ou coiratos!

Mas um nome que perdurou no tempo e hoje é uma saudade recordada por novos e velhos é a Glória do Xaréu, com taverna na rua 5 de Outubro a caminho de Paredes, de onde todos recordam os excelentes petiscos e  cozinhados e que um dia no seu programa na televisão o Chefe Silva disse que tinha sido o local onde havia comido o melhor galo assado no forno!

Depois havia as cozinheiras das bodas dos casamentos e batizados e lembro a Ti-Regina de Assequins honrando tantas outras… e se usasse saias falava também do Teófilo! Grande cozinheiro!

É pois difícil enumerar todas essas cozinheiras que durante anos regalaram quem dos seus cozinhados beneficiou…

Mas falta falar da doçaria e lembramos toda a gesta de mulheres anónimas… de Paredes, de Assequins, da Venda Nova e da Rua de Baixo e dos lugares e freguesias vizinhas que adoçavam as romarias com a doçaria de feira: os sequilhos ou doce de gema, os suspiros, as cavacas e os singulares fusis!

Depois temos a doçaria conventual e falamos do pastel de Águeda, da Barriga de Freira, dos Papos d’Anjo e tentamos historiar lembrando a Ti-Quitéria, que sendo serviçal num dos conventos da região trouxe para Agueda o segredo que deu origem ao Pastel de Águeda. Sendo a Ti-Quitéria madrinha de Bernardo Breda terá passado o dito à mulher deste, uma doceira de mão cheia que não deixava os seus créditos por mãos alheias no forno dos Guerra na Rua da Cancela e logo nasceram os “Folhados da Loura”. O seu nome era Libânia Guerra e por ser trigueira todas lhe chamavam a “loura”, sendo conhecida por Libânia Loura. Daqui ao pastel de Águeda foi um saltinho e aparece na história um outro interveniente - Tavares “Candeeiro” - a quem ela bateu o pé mas indiferente desenvolveu os pastéis de caixa para melhor transporte e conservação… seguiu-lhe as pisadas a filha Gininha e a esta as empregadas de casa: a Filó e a Ermelinda…

Por parte da Libânia Loura também houve continuidade com a sobrinha da nora Ana Brinco, a Augustinha Brinco e com Ângela, a mulher do filho João Breda.

Estes e muitos mais nomes femininos poderão estar ligados à gastronomia aguedenses, pois naquele tempo, em cada casa de família havia uma fada do lar, para não falar das casas senhoriais em cujos salões eram servidas grandes banquetes e festas para a nobreza e aristocracia da Capital.


Texto elaborado por

João Carlos Breda

Past Grão-Mestre da 

Confraria Enogastronomica Sabores do Botareu - Águeda 



   

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