Judeus de Águeda e suas judiarias...
Com a recente apresentação de uma nova doçaria de Águeda - os Judeus - pela Pastelaria Flor do Vouga, conclui-se que se pode inovar sem desvirtuar o existente. Tendo como base o Pastel de Águeda tinha tudo para singrar e apenas faltava dar sustentabilidade ao nome.
A Confraria Eno-gastronómica Sabores do Botaréu foi solicitada para dizer o porquê de os de Águeda estarem cognominados de Judeus!
Coube-nos fazer essa pesquiza mas pouco ou nada encontramos acerca da existência de Judeus na região. Não se encontram vestígios que nos apontem para a sua presença, a não ser alguns receituários antigos que em algumas famílias permanecem e passaram de geração em geração e que demonstram alguns cuidados então seguidos pelos cristãos novos para demonstrar a sua total cristianização...
Mas judiarias encontramos muitas... Assim baseado em outros escritos de cronista, livros de autores aguedenses e relatos dos mais antigos aqui deixamos o nosso contributo para a clarividência do porquê de sermos Judeus... ou não!
A origem de Águeda perde-se nos tempos...
No entanto a sua localização na encruzilhada dessa estrada, então navegável que era o rio Águeda, e que unia a terras ribeirinhas da vila de Aveiro, da vila de Ovar e da vila de Ílhavo e outros locais da orla marítima, com a via romana Conimbriga a Bracara Augusta, a Estrada Real e o caminho dos peregrinos para Santiago de Compostela, tornaram-na num importante entreposto comercial e daí o seu grande desenvolvimento burguês, onde acudiam comerciantes das mais variados artes e ofícios, incluindo os ourives, quiçá de origem judaica, embora se desconheça a existência da sua presença, mas com tanto comércio tudo seria possível e da fama não nos livramos...
Dizem-nos que o primeiro aglomerado de casas apareceu em redor da Igreja em devoção a Santa Eulália, a que chamaram Casal de Lausato. A fervorosa tradição religiosa esteve sempre presente ao que não será estranho que por volta dos sec. XVII (ou antes) se iniciassem as procissões religiosas da Semana Santa e da Procissão do Senhor dos Passos... e daqui advém uma das histórias. Verdadeira?
Na Igreja da Trofa (Trofa do Vouga) existia uma linda imagem do Senhor dos Passos, de joelho em terra, carregando a cruz ,que era cobiçada pelos “Judeus” aguedenses, que não tardaram em ir lá roubá-la para assim poderem fazer as procissões e todo o cerimonial teatralizado do caminho do Senhor para o Calvário e Sua morte... e era tudo tão bem encenado que não mais perderam o nome de JUDEUS.
Os da Trofa bem reclamaram a devolução da imagem mas então estabeleceu-se um acordo entre eles, enquanto os Judeus de Águeda realizassem a procissão os da Trofa não viriam buscá-la.
Outra judiaria atribuída aos de Águeda foi o roubo de um sino da Torre da Igreja de Recardães, que continua a tocar virado para aquela antiga Vila na Torre da Igreja Matriz de Águeda.
Para terminar este nosso depoimento o relatar de uma peripécia passada numa das procissões da Semana Santa, quando estas iam à Além da Ponte na entrada da freguesia de Recardães... Então conta-nos o poeta popular Fernando Brás, que o Padre Ílhavo que nesse quadro litúrgico representava Jesus Cristo dizia em voz exaltada para o Centurião Romano: “ Afasta-te Centurião!” “Arrepende-te”!
Vendo que o Centurião, ali representado por um “aguedense” teimoso, em vez de recuar continuava a avançar com a lança apontada... repetia: “Recua Centurião, arrepende-te Centurião”! mas este continuava a avançar... Então o Padre Ílhavo zangado por Centurião não cumprir com ordem, vociferou: “És mesmo Judeu!”.
Retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda
Na história que ouvi contar, o padre não se chamava Ilhavo, mas era pároco em Ilhavo e tinha sido convidado para vir fazer os sermões; e à sua insistência na interpelação ao centurião:-«arrepende-te centurião» este respondeu: -não me arrependo não, hás-de levar que contar para Ivalho...»
ResponderEliminarTambém ouvi contar que um dos motivos de chamarem judeus aos habitantes de Águeda tem origem na Semana Santa e no grupo de «actores» que desempenhavam com enorme rigor os papeis dos judeus, ao ponto de serem convidados para participarem noutras localidades, principalmente em Ovar; e à sua chegada as populações locais diziam:-«Lá vêm os Judeus de Águeda!».
Poderia identificar-se para assim sabermos quem nos está a dar este excelente contributo.
EliminarEntão pá, sou eu, mano...abraço...Álvaro
ResponderEliminarAbraço mano Álvaro.
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