Responso a Santo António...


RESPONSAR ou ARRESPONSAR

O recente post publicado na página Filhos de Sever do Vouga pelo amigo Albano Macedo, fez-me recuar no tempo e lembrar minha avó Arminda que tinha fama de boa “arresponsadeira”... lembro-me das pessoas a elas recorrerem não só por causa de algo perdido mas também para por intercessão de Santo António obterem algum benefício ou desejo concretizado... e quando o responso lhe corria bem, dizia ela que via o Santo António a vir do lado da Borralha... isto porque vivia em S.Pedro, sendo a casa sobranceira à Quinta da Paulicea e por isso tinha a Borralha no horizonte...

Com a devida vénia aqui vai o texto postado pelo amigo Albano Macedo, pois trata-se de algo que não se pode nem deve perder por pertencer às raízes da nossa gente...

“RECORDAR COISAS DE ANTANHO...E NÃO SÓ...

"RESPONSAR ou ARRESPONSAR”

Naqueles tempos de antanho, a vida tinha outro valor e dava-se valor aos nossos valores.

Quando desaparecia um animal (perdido, por exemplo), logo se recorria à “arresponsadeira”, pois havia sempre uma disponível e que sabia dizer ou fazer o responso, se calhar ainda há por estas bandas quem saiba essas rezas ou oração... se é que assim se podem chamar.

Mas voltando aos tempos de antanho. Os responsos há umas décadas eram coisa mesmo muito séria. Perder uma ovelha, um cabrito, uma galinha ou uma “garniza” era um grande prejuízo e os responsos de antanho amenizavam a aflição.

Quem tinha "sabedoria" para “arresponsar” era vista pelos outros, como a salvadora e como eram, por norma mulheres idosas e vestidas de negro, eram vistas como pessoas de algum poder.

Acredito que nem todas as pessoas faziam o "trabalhinho" bem feito, só se recorria a uma boa “arresponsadeira” já com créditos e fama na praça.

Ao ouvir o responso a ser “balbuciado” ou “rezado”, o “encomendador” ficava inquieto, pois o responso tinha de sair “direitinho”, caso contrário, “adeus animal perdido, que já não chegarás a ser encontrado”. Caso não tivesse havido “enganos no responso” era um alívio para o “encomendador”…

Nascia a esperança…pois não tinha havido enganos na reza.

Claro que no responso residia o bem-fazer, um misto de energia que pretendia e pretende obter o bem.

Como que ausente do mundo, a “arresponsadeira” balbuciava algo inaudível, curiosamente de modo calmo e sereno. Estava a “arresponsar”..

Tinha que ter toda a oração dita de forma encadeada sem se enganar.

Quando a vontade de se encontrar era grande, a responsadeira repetia o pedido mais que uma vez.

Quando toda a oração saía bem, era certo que o perdido ou o desejado seria alcançado. Quando se enganava tinham de recomeçar e repetiam até três ou mais vezes. Se as rezas continuassem a não ser bem encadeadas estava o "caldo entornado".

Até se chegava ao ponto de sentenciar se estava vivo ou morto, geralmente comido por bicho ou lobo.

Dizem que o mais eficaz e utilizado era o responso de Santo António, deixo-vos aqui uma versão em português vernáculo de antanho…sem acordo ortográfico.

Beato Santo António se lebantou,

Se bestiu e calçou

Suas santas mãos labou,

Ao Paraíso cortou.

Chigou ao meio do caminho

Com o Senhor se incontrou,

Para onde bais, Beato Santo António?

Com o Senhor eu bou.

Tu comigo num irás

Que eu p´ro Céu subirei.

Tudo quanto me pedires te farei:

Cães e lobos com os dentes trabados;

Rios e regatos bão imbaçados;

Corações inimigos acobardados;

O perdido seja achado.

Ou então nesta versão:

“Santo António se levantou,

seu sapatinho calçou,

seu bordãozinho pegou,

seu caminho caminhou,

Jesus Cristo encontrou.

Jesus Cristo lhe perguntou:

- Onde vais, Beato António?

- Senhor, convosco vou.

- Comigo não virás,

na terra ficarás

guardando o que está perdido,

que à mão do dono seja restituído.

Em nome de Deus e da Virgem Maria

Pai-Nosso e Ave-Maria.”

De referir que este responso rezava-se três vezes, depois das quais, as coisas desaparecidas, apareciam...

COISAS DE ANTANHO E DE AGORA TAMBÉM (?)

FIQUEM BEM E SEJAM FELIZES.”

Público a imagem do Santo António, que foi pertença da minha Avó Arminda a quem ela orava os responsos e também a sua foto.




By João Carlos Breda

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