Toca a sirene…

 



Toca a sirene…


Manuel “chapeleiro” deixa o chapéu do cliente na forma e sai da loja a correr, deixando à irmã Iracene o cuidado de zelar pelo trabalho… Ao fundo da rua encontra Eugénio “regedor” que sai da mercearia ainda com o lápis na orelha… ao chegarem à entrada da rua Ferraz de Macedo aparece o Nai Girão do lado da ponte montado na bicicleta, com a canastra de transportar os cabritos no suporte e logo a larga à porta do Manuel do Talho para poder correr melhor! Aquela subida até às escadinhas da Rua de São Bento parecia não ter fim! Destas surgiu o Alberto da Joana, seguido do Casimiro Liberal… O quartel dos bombeiros era mesmo ali (hoje Bar A Palhota) naqueles currais improvisados onde o Fargo e demais material estava guardado…

De cima, do lado da garagem Guerra, apareceram o Rebocho, o Manuel Relvas, o Noé, o Zé Chibeiro e outros…trabalhavam na ferragens do Amaro, do Valente de Almeida, do Silva Irmão ou do António Ribeiro de Matos na Venda Nova!

A linda Fargo foi posta a trabalhar  pelo condutor, o Alberto da Joana, e o Manuel Pereira, conhecido por “chapeleiro” ocupou o lugar da sineta, que servia para anunciar a marcha da viatura…   Todos  os outros se sentaram nos lugares vagos depois de na arrecadação o Graça lhes ter distribuído capacetes e machados…





A Fargo desceu a Ferraz de Macedo e curvou para a rua de Cima ao som do campainhar da sineta, fazendo com que todos viessem à porta do seus negócios ver o carro dos bombeiros passar ao encontro de quem precisava de auxílio…

A Glória dos Padre-Nosso com as suas vestes conventuais, descia da Viela dos Padres e não parava de se benzer…  O João “Corino” Galhano veio com a navalha da barba na mão… o Hilário afiava a faca de talhante olhando a rua… o Alfredo “Tamanqueiro” perguntava ao Aquiles alfaiate se sabia o que tinha acontecido!… O ti Augusto Zica coçava a cabeça com o boné… o Ribeiro das Fazendas esticava os suspensórios… o Acácio “barbeiro”segurava o cliente com o pano branco ao pescoço… o Gil Brinco, que não conseguira ir ao quartel e incorporar-se no carro, acenava ao companheiros da porta do Barão e gritava, como que uma ordem: - “Tenham cuidado!”… 

O ti Joaquim espreitou à porta da ourivesaria e o ti Loureiro deixou a farmácia e veio à porta do Zé Breda, que de pirisca no canto da boca não parava de dar corda ao relógio de bolso que acabara de concertar… o Zé Tendeiro à porta da Casa Coelho acenava aos amigos com o jornal A Bola na mão! O Francisco Euclides saiu da papelaria e questionava ao Hernâni na porta do Candeeiro onde era o fogo?!

O ti Manecas Costa espreitava das Finanças e às janelas do edifício da Câmara assumiram algumas cabeças curiosas…

E a Fargo lá seguiu majestosa a sua marcha pela reta em direção a Assequins!

A chamada tinha sido de lá… umas cabanas de palha ardiam e ameaçavam as casas vizinhas na rua do campo.

Chegados ao local do sinistro e sob o comando do Eugénio “regedor” descarregaram a moto bomba junto à regueira e mergulharam  o chupador no caudal de água, que à época era abundante… 

Já lá ia o tempo em que o trabalho era braçal, como contava meu pai nuns primeiros tempos em que como cadete acudiu a um fogo numa serração em Anadia… 

Assim, quando acionaram o motor da moto bomba logo a mangueira inchou e jorrou água e foi apontada para a segunda cabana, que já ardia, pois da outra pouco restava, assim como duns currais, donde atempadamente tinham os donos tirado os porcos…

A intervenção foi bem sucedida e depois de efectuarem o rescaldo e se assegurarem que tudo estava seguro e sem perigo para as casas regressaram ao quartel!


Estacionada a Fargo e arrumado todo o material, com as mangueiras esticadas a secar para depois serem devidamente enroladas nos carretéis, a voz do Alberto da Joana fez-se ouvir:

-“Ò rapazes, vamos ali abaixo à Tasca da minha Joana molhar a garganta e apagar o fogo e ver se lá tem um petisco para nós!”


BERBIGÃO DE CEBOLADA (Cricos)

Ingredientes

- 3 cebolas

- 1,5 dl de azeite

- 4 tomates maduros

- 1 folha de louro

- 2 kg de berbigão

Modo de preparação

Cortar as cebolas às rodelas e refugar em azeite, assim como o tomate limpo e cortado em pedaços. Tempere com pimenta, alho, louro. Depois de refogado, acrescente o berbigão e deixe abrir em lume brando.

SERVIR DE IMEDIATO


PATANISCAS COM FELJÃO FRADE

Ingredientes

- 1/4 kg de feijão frade

- 2 ovos

- 125 grs de farinha de trigo

- 1 posta de bacalhau sal, pimenta, cebola e salsa q. b.

Preparação

Coze-se o feijão frade e deixa-se a arrefecer. Depois tempera-se com cebola e salsa picada.

Quanto às pataniscas propriamente ditas - junta-se à farinha os ovos, sal, pimenta, cebola, salsa picada, quanto baste; mistura-se tudo, juntando-se por fim o bacalhau esfarrapado; frita-se em azeite bem quente e coloca-se em papel pardo, em cima duma travessa.

Empratamento

O feijão frade é servido numa travessa e enfeitado com a cebola e a salsa (há quem sirva o feijão frade simples e a cebola num recipiente e a salsa noutro, pois há quem não goste misturado). As pataniscas depois de escorridas no papel pardo, são servidas numa travessa enfeitada com azeitonas.

Receita de CACILDA RAMOS


E a petisqueira aconteceu e para alguns prolongou-se… Não para o Manuel “chapeleiro” que tinha o chapéu na forma, nem para Eugénio “regedor” cuja mercearia por ele chamava… Para os restantes o dia estava ganho. Estaria? Há muito as sirenes ou o malho da saída havia sonado nas fábricas onde trabalhavam!


Com a devida vénia público algumas fotos dos primeiros tempos dos nossos garbosos soldados da paz cuja abnegação nunca é por demais enaltecer.


In retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com

By João Carlos Breda

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