Do Fricassé ao Botaréu…

 

Do Fricassé ao Botareu!…


Pela travessa da Venda Nova chegou ao largo da vetusta capela do mártir…

Um belo figo pendia da figueira, junto ao muro da casa vizinha, como a convidar a ser apanhado...

Olhou o velho chafariz, mas optou por entrar na Zínia e beber um branquinho, embora ali no largo a oferta fosse variada! Dois dedos de conversa de circunstância com conhecidos ali presentes, entre eles o amigo Eduardo Fataça e seguiu em direção à baixa.

Descendo a rua passou a casa onde a ti - Rosa “Floca” orientava a fila dos que vinham para o prato de sopa (Sopa dos Pobres), e eram tantos naqueles anos de míngua…

Já na Praça Nova dobrou a esquina da farmácia Vidal, onde quando muito jovem fora aprendiz e embrulhara muitos comprimidos em folha de hóstia.

Recordou uma estória  passada com um dos farmacêuticos que por ali passou... Ele era de estatura baixa e um dia vendo a bicicleta do Tavares “Candeeiro”, homem de grande figura, ali parada ao lado à porta da mercearia do dito, quis nela montar e na sua pequenez não chegou aos pedais para a controlar e descontrolado atravessou a estrada entrando de rompante na retrosaria em frente “Águeda Elegante” para surpresa do Sr. Fausto Matos, que ao balcão media fita de nastro para uma freguesa!

Seguiu em frente pela rua de Cima e parou na montra da chapelaria Pereira onde entrou para ver se já tinham recebido as boinas pretas, acessório que usava à moda espanhola e dizia ser: - À carago!

O Acácio e o irmão Miltinho à porta da barbearia saudavam os passantes e esperavam a clientela.

À porta da Tasca do ti Augusto Zica já lá estavam o Raul Lanheses, o Abílio “Gato-Mia” e o Eugénio “Furrico”, tinham combinado ir lá almoçar um petisco! E ia sair uma galinha de fricassé preparado pela Dona Gia. Era o prato de eleição do “Lanheses”!

Entretanto duas mulheres com uma carrada de mato e agulhas à cabeça pararam e um delas dirigiu-se ao ti Augusto e pediu:

- Ò ti Augusto dê-me aí um calcezinho de agardente para desinfentar aqui uma topada no dedo mindinho!

O ti Augusto lá lhe trouxe o remédio e ela, que tinha poisado o carrego no degrau da porta da taberna, tomou o cálice na mão, abaixou-se molhou um dedo no líquido e desinfetou a ferida e logo de um trago bebeu o resto!

Remédio santo! Num ápice pôs à cabeça o carrego e lá seguiu para a padaria dos Balreira, a quem era destinado o mato para acender os fornos.





 

Frango de Fricassé

Ingredientes:

1 Frango

2 dentes de alho

0,5 dl de azeite

2 dl de água

1 ramo de salsa

4 gemas de ovos

Sumo de limão q.b.

Sal e pimenta (piripiri) q.b.

 

Modo de preparação:

Faça um refogado com azeite, cebola picada e alho.

Depois de alourado, junte o frango cortado aos bocados. Tempere com sal e pimenta e deixe-o cozer durante uns minutos, mexendo sempre para não queimar. Acrescente água e deixe ferver. Quando o frango estiver cozido, retifique os temperos e, se necessário, acrescente um pouco de água. Retire o frango do lume.

Numa taça à parte misture as gemas com o sumo de limão. Acrescenta ao frango e misture. Polvilhe com salsa picada.

Sirva-o numa peça de barro e acompanhe-o com arroz branco ou puré de batata, servido à parte.

(Receita da Ti-Marizé)

 

Os últimos a chegar foram o Arcanjo e o Vitorino Pirra e lá se sentaram na mesa corrida dos fundos para degustar o pitéu, que não tardou a ser servido pela Dona Gia, enquanto o marido trazia para a mesa uma picheira de tinto.

Lambuzaram-se com a iguaria e disseram maravilhas da cozinheira. No fim para lavarem a boca o ti Augusto Zica trouxe uma picheira do “Faísca”!

Dona Gia apareceu com uma travessa e dizia:

-Ó João! Sei que és guloso… vou vos dar a provar uma sobremesa que fiz hoje para os hóspedes da pensão.

 

Tigelada

Ingredientes

10 ovos

1 litro de leite gordo

10 colheres de sopa de açúcar

casca de limão q.b.

 

Modo de preparação

Batem-se os ovos juntamente com o açúcar. De seguida, junta-se o leite e a casca de limão, misturando tudo muito bem. Depois vira-se tudo para uma vasilha de barro ou vidro e leva-se ao formo de cozer. Ao fim de uma hora verifica-se se já está cozido, espetando um "palito" e verifica-se se ele fica seco. Se assim acontecer deve retirar-se do forno, pois é sinal de que já está cozido.

Deixa-se arrefecer um pouco e pode-se servir.

 

 


 

Saíram de lá animados e foram até à Praça da República ver as obras da Ponte e o reforço do paredão!

E voltou à baila a questão do porquê chamarem aquela zona da Vila - Botaréu.

Já Adolfo Portela num dos seus textos dizia que “o rio no tempo das cheias sobe iroso aos botaréus da Vila…”

Concluímos que botaréu não é mais do que um contraforte de reforço ou muro de suporte, neste caso de proteção à ponte, dado nesta parte o rio fazer um meandro.

É esta a explicação dada para a origem do botaréu em Águeda, que não é mais que uma obra de engenharia hidráulica de proteção das margens junto à ponte.

A partir daí toda aquela área ribeirinha até à ponte se passou a chamar de Botaréu.

 

Nesta memória lembro meu pai, João Breda, que gostava de usar boina preta, e alguns dos seus colegas mais antigos da Fábrica do Outeiro.

 

João Carlos Breda

In retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com

(RESERVADO OS DIREITOS DO AUTOR)


#historiascomreceitas

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