UM CASAMENTO… NAQUELE TEMPO!
Um casamento...
… naquele tempo!
Os foguetes estalejaram no ar!
Ia ser dia de festa de arromba e ao Largo da Nossa Senhora da Graça, na Vila de Assequins, começaram a chegar os rapazes que acompanhavam o noivo.
Todos de jaqueta ou colete preto e chapéu na cabeça. O noivo trajava jaqueta branca e no chapéu preto pendiam duas borlas brancas.
Os convidados teriam nos seus chapéus duas borlas pretas pendentes. Tinha sido essa a exigência do pai da noiva para evitar o aparecimento de penetras, ou melhor, intrusos sem convite para a boda! Todos os convidados tinham de ter borlas nos seus chapéus!
O pai da noiva era um abastado lavrador de Assequins, com terras de milho nos campos do Águeda e quintas na parte alta da Vila com produção de vinho, fruta e muito mais. Mandara abater uma vitela, dois porcos e um carneiro... seriam dois dias de festa e muita comezaina.
O casamento da sua Mariazinha tinha de ficar na história como uma festança!
Para a cozinha tinha convidado um cozinheiro afamado da região, o ti-Ofélio, que seria ajudado pela Rufina e mais umas quantas mulheres.
A cerimónia seria na capelinha da Senhora da Graça e depois a boda na sua casa de lavoura no Carreirinho junto aos Currais da Vila. Para tal dois dias antes tinha mandado limpar o aido fronteiro à porta da adega, debaixo da latada do morangueiro. Uma grande mesa corrida ali tinha sido montada e o chão juncado com fetos, alecrim e rosmaninho. Bancos corridos seriam o assento para os convivas porem as perninhas debaixo da mesa...
O noivo veio de Águeda, mais propriamente do Chapado, perto da Capela a São Pedro, onde o pai tinha uma enorme quinta na qual produzia de quase tudo e segundo ele dizia:
- “Tenho lá um vinho de três estalos!”
E com a anuência do pai da noiva, seu futuro parceiro, o ti-João do Avelal, atempadamente mandou para a adega deste em Assequins dois pipos de cinco almudes!
Quando o Rogério acompanhado pelos pais, o ti-Adriano e a Dona Amélia, chegaram ao Largo do Pau já a rapaziada estava animada! Alguma coisa se tinha por ali passado ao qual não teria sido estranho o aparecimento de um cântaro para matar a sede, só que em vez de água o líquido era vinho branco com limonada e açúcar!
O Padre João Baptista à porta da Capela, ladeado pelo Rogério e o pai, dava as boas vindas!
E estavam em animada cavaqueira quando do lado do Pelourinho surgiu o cortejo da noiva.
Mariazinha vinha de braço dado com o ti-João e logo atrás a mãe e os irmãos.
O Padre João Batista subiu para o altar acompanhado por Dona Amélia e o noivo Rogério e esperou a entrada da noiva.
A cerimónia foi breve e dentro dos cânones da Santa Igreja e depois da bênção aos noivos estes saíram debaixo de uma chuva de arroz!
De lá seguiram para os Currais da Vila e debaixo da frondosa parreira se foram acomodando na longa mesa coberta por uma alva toalha, onde já pontificavam pratos, talheres e copos e um guardanapo de pano!
Ao centro da mesa sentaram-se os jovens recém-casados ladeados pelos padrinhos, pais e pelo Padre João Baptista que nunca faltava a uma boa comezaina!
À ordem do ti-João começaram a servir uma bela canja de galinha, das da bela criação de uma das suas quintas da Catraia e que tinham sido abatidas de véspera para fazer a dita e mais alguns pratos.
Em boa hora a canja foi servida pois os estômagos já estavam a pedir algum conforto!
in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By Joao Carlos Breda
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