Domingo de Ramos
Domingo de Ramos
Endireitai as veredas e os caminhos do Senhor…
Jesus está às tuas portas, Jerusalém!
E chegava Domingo de Ramos!
No sábado, a alegria de preparar os ramos para serem benzidos na missa das nove de Domingo!
Meu pai fazia-me uma cruz revestida com alecrim e adornado com flores do nosso jardim: narcisos e amores-perfeitos…
E lá ia com os outros a caminho do Adro. Muitos levavam palmas mas, a maioria ramos de alecrim enfeitados com lírios e outras flores…
No Adro da Igreja a confusão já era muita com os grupos de Assequins e de Paredes a mostrarem qual deles tinha a Cruz ou Arco mais alto e melhor enfeitado!
Chega então o grupo do Ameal com uma cruz gigante, comandado pelo Lucindo, só ele para fazer tais construções que, tinha de ser suportado e equilibrada por seis matulões!
E depois para entrar na Igreja?! Teve de intervir o Senhor Prior e proibir a entrada das maiores, que ficaram no exterior, encostadas à Igreja.
Todos os outros entraram naquele local sagrado que ficou profusamente perfumado pelo alecrim e inúmeras flores!
No final da Missa já com a benção efectuada era dar a volta ao cruzeiro e lá foram elas bem erguidas exibindo o trabalho da rapaziada de cada lugar que, regressando aos seus lugares de origem, as deixaram bem expostas junto às capelas dos Santos ali venerados…
Assim era a manhã do Domingo de Ramos deixando antever o que seria a Semana Santa que se avizinhava…
A Semana Santa e os Judeus de Águeda…
A origem de Águeda perde-se nos tempos... já foi Agatha e Anégia… a sua origem estará ligada a tribos de Túrdulos que povoaram estas terras antes de Lusitanos e Romanos…
No entanto a sua localização na encruzilhada dessa estrada natural, então navegável, que era o rio Águeda, que a unia às terras da beira mar: de Aveiro, Ovar e Murtosa e a outros locais da orla marítima, com a via romana de Olissipo ( que passava Conimbriga e Aeminium) a caminho da Bracara Augusta, e mais tarde a Estrada Real ou o caminho dos peregrinos para Santiago de Compostela, tornaram-na num importante entreposto comercial e daí o seu grande desenvolvimento burguês, onde acudiam comerciantes das mais variados artes e ofícios, incluindo os ourives, quiçá de origem judaica, embora se desconheça a existência da sua presença, mas com tanto comércio tudo seria possível e da fama não nos livramos... Mas segundo o historiador Virgílio Nogueira Gomes a existência das alheiras, enchido produzido pelos cristãos novos para despistar os inquisidores, é transversal de Águeda a Bragança, o que prova que estiveram cá e essa tradição ainda existe por exemplo em Barrô.
Dizem-nos que o primeiro aglomerado de casas se chamou Casal de Lausato.
E a igreja em honra de Santa Eulália demonstra a
fervorosa tradição religiosa que esteve sempre presente, ao que não será estranho que por volta dos sec. XVII (ou antes) se iniciassem as procissões religiosas da Semana Santa e principalmente a Procissão do Senhor dos Passos... e daqui advém uma das muitas histórias. Uma verdadeira judiaria!
Pois, segundo dizem, na Igreja da Trofa (Trofa do Vouga) existia uma linda imagem do Senhor dos Passos, de joelho em terra, carregando a cruz ,que era cobiçada pelos “Judeus” aguedenses, que não tardaram em ir lá roubá-la para assim poderem fazer as procissões e todo o cerimonial teatralizado do caminho do Senhor para o Calvário e Sua morte... e era tudo tão bem encenado que não mais perderam o nome de JUDEUS. Os da Trofa bem reclamaram a devolução da imagem mas então estabeleceu-se um acordo entre as duas partes, enquanto os Judeus de Águeda realizassem a procissão os da Trofa não viriam buscá-la e a Águeda, a ver as procissões da Semana Santa, acorria gente de muito lado… Todos os dias da semana tinha uma procissão com o seu significado. Lembro-me de ver a do Senhor da Cana Verde e a do Senhor morto… mas a que mais gente atraía era a em que a Verónica cantava e o povo corria de rua para rua para a ouvir cantar…
Outra judiaria atribuída aos de Águeda foi o roubo de um sino da Torre da Igreja de Recardães, que continua a tocar virado para aquela antiga Vila, na Torre da Igreja Matriz de Águeda.
Para terminar este nosso relato de Águeda antiga, a cena passada numa das procissões da Semana Santa, quando estas iam à Além da Ponte na entrada da freguesia de Recardães... Então, conta-nos o poeta popular, Fernando Brás, que o Padre de Ílhavo que, nesse quadro litúrgico, representava Jesus Cristo, dizia em voz exaltada para o Centurião Romano:
-“ Afasta-te Centurião!”
- “Arrepende-te”! Vendo que o Centurião, ali representado por um “aguedense” teimoso, em vez de recuar continuava a avançar com a lança apontada... repetia:
- “Recua Centurião!”Arrepende-te Centurião”! mas este continuava a avançar... E a cena repetiu-se por mais duas ou três vezes com o Centurião sempre a avançar com a lança em riste! Então o Padre de Ílhavo, zangado por o Centurião não cumprir a ordem, vociferou: “És mesmo Judeu!”
In retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda
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