Amores Proibidos (Romance ficcionado versando a lenda da Bicha-Moura)
AMORES PROIBIDOS
1. Capítulo
Portucale… a conquista cristã.
O sol raiava por entre os pinheiros e começava a aquecer o manto branco da neve caída durante a noite, que aos poucos ia derretendo.
Lovendo Ramires sentado no alto penhasco recebia o calor do astro rei e com olhar astuto perscrutava o pequeno planalto da Cabreira como que algo esperando…
De repente um ruído de cascos anunciou a entrada naquele redondel natural de uma dúzia de garranos liderados por um irreverente garanhão negro azeviche que com mirabolantes pinotes parecia querer saudar o jovem Lovendo!
Na verdade havia já entre eles uma atração misteriosa e Lovendo desde que o vira pela primeira vez naquele local, não mais deixara de ir até lá para o ver….
Antes de abandonar o local, desceu do penhasco e lançou um assobio ao que o negro garanhão respondeu com um relincho e em lento trote se aproximou do jovem. Este tirou do alforge, que trazia a tiracolo, um maçã vermelha que deu ao cavalo. O garrano resfolegou, recebeu a maçã e partiu a galope!
Lovendo Ramires era filho de Ramiro alcaide do castelo que dominava aquelas terras, posto avançado do Reino de Leão, depois de terem expulso a mourama para sul.
A sua juventude fazia-o sonhar com cavalgadas à garupa daquele negro garrano e em aguerridas lutas conquistar mais terras aos mouros do Emir de Córdoba, empurrando-o mais para sul…
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2. Episódio - Fátima…
Uma ligeira brisa refrescava-lhe a pálida face e fazia ondular seus cabelos negros naquele fim tarde…
No ocaso o céu tingia-se de cores alaranjadas pronunciando o dia quente que se avizinhava!
Fátima acomodou-se no coxim e reclinando-se olhou a fruteira de prata ricamente ornada com frutos diversos tomou uma tâmara entre seus finos dedos e levou-a à boca saboreando-a demoradamente…
Vivia no recato da sua alcáçova, uma elegante torre construída pelo pai, para seu conforto mas também segurança, pondo-a a salvo dos olhares pecaminosos dos cristãos, enquanto se ocupava da sua outra grande paixão - os vinhedos para produção de vinho…
Essa torre estava situada a meia encosta com vista para as serranias de Al Cobar (Caramulo) e sobre os verdejantes campos do vale do Alfusqueda…
Falamos da doce e bela Fátima, filha de Alban Abu Sad’un, Emir de Anégia, que dominava as terras desde o Vouga ao Mondego… até então pertença do reino do Califado de Córdoba!
(A invasão muçulmana da Peninsula Ibérica teve lugar a partir do ano 711).
Os dias de Fátima eram passados no “isolamento” da sua alcáçova rodeada pelas suas aias. Para a entreter ou divertir, faziam sessões de artes e lavores com grande inclinação para os bordados que lhes haviam sido ensinados por suas avós de Fez ou Marrakech…
Uma das aias, Cadija, gostava de ler e contar histórias e Lídia cantava melopeias ao som do Al Ud (Alaude).
As vistas dos verdes campos onde a azáfama diária das mulheres e homens que amanhavam a terra com a ajuda de alguns animais e os cantos primaveris ou estivais da passarada era também a forma de preencher a ociosidade… Quando se aproximavam festas a aia Bezuya dava aso a sua arte de pintar mãos e braços com a Henna, era uma diversão!
Alban Abu Sad’un havia escolhido o nome Fátima para sua filha, por ser o nome da filha mais nova (Fatimah Az Zahra)
do profeta Muhammad, sentindo que assim, também, estaria melhor protegida!
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3. Episódio
Movimentos de guerra…
No castelo de D. Ramiro havia grande azáfama com a chegada de cavaleiros das mais diversas origens galegas e asturianas , que assim se juntavam aos jovens de Portucale e do reino Leonês para formar um exército que se haveria de juntar ao do Lidador…
Entre estes Lovendo montando o esbelto Trovão, que domara com a ajuda de Enes e Romualdo, seus dedicados aios e amigos de infância, que igualmente o acompanhavam montando belos garranos da Cabreira… Nas suas vestes e escudo, ostentavam as armas da Casa de D. Ramiro onde uma Vieira se realçava!
D. Ramiro no Salão de Armas do castelo junto a uma das lareiras conversava com alguns fidalgos, que comandavam os cavaleiros recém chegados. Um deles seria D. Bermudo, sobrinho do Abade João do Mosteiro de Lorvão. Discutiam pormenores da investida que iria ser iniciada, na tentativa de escorraçar ainda mais para sul os muçulmanos que permaneciam nas terras abaixo do Douro (Terras de Santa Maria), se possível para lá do Mondego, conquistando a Alcaçoba de Montemor!
O norte até ao Douro havia sido libertado dos muçulmanos no ano 868 por Vímara Peres, que então estabeleceu diocese em Portucale (antes de Braga) com a ajuda dos cristãos de Coimbra.
O espírito independentista começava a germinar na região!
D. Ramiro chegou-se para uma das mesas e chamou os fidalgos para o acompanharem. E logo deu ordens aos criados que servissem dos potes negros que estavam junto à lareira os pratos dos nobres cavaleiros e o dele também. De um dos potes saíram couves fumegantes e do outro feijõezinhos amarelos… dum terceiro pote tiraram uns nacos de toucinho, focinho e orelha de porco…
Jarros de vinho vieram para a mesa!
Fizeram-se brindes e deram-se Vivas!!!
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4. episódio
O encontro…
O movimento estranho de cavalos fez Fátima espreitar por uma das janelas da torre…
Eram cavaleiros cristãos que depois de passar Al keruim e Al mahar passaram o Vouga e tinha chegado a Anégia, onde o bom senso do Emir Alban Abu Sad’un não ofereceu luta e acordou coexistir pacificamente na região com o seu povo, onde desenvolviam uma agricultura cerealífera mas também de vinha e azeite.
O mesmo poderia não acontecer em Montemor nas margens do Mondego, nas imediações de Coimbra, porque o Vizir Zuleido Ibn Zafran por certo não teria iguais ideias e não entregaria a
Alcáçova de Montemor sem luta!
Quando Fátima olhou para o exterior deu de caras com um jovem cavaleiro montando um bonito cavalo negro. Seus olhares se cruzaram e a beleza de olhos negros amendoados de Fatima logo enfeitiçaram o jovem cavaleiro, que mais não era que o nosso Lovendo Ramires…
Fátima também não ficou indiferente e o esbelto cavaleiro começou a fazer parte das fantasias dos seus sonhos…
A hoste do exército cristão, de que fazia parte Lovendo, estava acantonada na margem direita do rio Alfusqueda, e este diariamente cavalgava para as imediações da torre para ver se tinha a sorte de voltar a ver a linda donzela moura.
Esta não ousava mostrar-se mas por detrás das cortinas de tule apreciava o jovem cavaleiro o que não passou despercebido a Zaya uma das suas aias preferidas!
A presença dos cavaleiros junto à torre tornou-se suspeita a um dos fiéis guardas do Emir e disso deu conta ao seu senhor. Este ordenou que ficasse de atalaia e ao mínimo movimento suspeito logo lhe comunicasse.
No entanto a arte e engenho dos corações apaixonados souberam tornear as dificuldades e com a conivência da fiel Zaya, aprazaram um fugaz encontro nos dias que se avizinhavam e nos quais havia os preparativos das Festas das Luzes que teriam lugar em El Sequins aglomerado populacional de predominância muçulmana.
O lugar tinha ruelas e vielas que facilitava encontros furtivos e convenientes fugas. Os festejos principais seriam na praça junto ao palácio do Emir Alban Abu Sad’un…
Zaya preparou em pormenor a ida a El Sequins e a visita à prima Neida, com o pretexto de ir ao seu Bazar comprar tecidos e matizes para os bordados e depois ir ver as bailarinas na praça grande, prenunciando a Festa das Luzes que teria lugar daí a duas semanas.
Lovendo Ramires instruído pelo aio e amigo Romualdo, segundo o que lhe havia sido transmitido por Zaya, compareceram na ruela à hora aprazada e entraram no Bazar onde Neida vendia os seus produtos. Mostraram-se interessados em comprar tapetes de seda… o que rapidamente se desvaneceu com a chegada das duas donzelas. Zaya e Romualdo distraiam Neida pedindo para ver os mais variados produtos e enquanto isso Lovendo e Fátima, olhos nos olhos, faziam juras de amor… foi um momento único e mágico! Durou algum tempo mas para aqueles corações apaixonados foi apenas um ápice!
Lovendo e Romualdo saíram do bazar e ocultando-se no escuro das sombras rumaram ao acantonamento.
Fátima e Zaya depois das compras feitas passaram pela praça onde as bailarinas dançavam ao som de flautas, alaúdes, daff e timbales…
Infelizmente todos estes silenciosos movimentos quase invisíveis foram por um acaso detectados pelo arguto Mafud, o espião do Emir…
Ao sair da taverna à entrada de El Sequins viu dois vultos a esgueirar-se nas sombras da noite e fácil foi identificá-los pelas vestes. Não os perseguiu, foi antes procurar donde viriam tão em segredo e embrenhando-se nas estreitas vielas viu Fátima e Zaya sair do Bazar de Neida… e somando dois mais dois concluiu que algo ali se tinha passado… e foi logo contar ao Emir!
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5.Episódio
Os vinhedos do Emir…
Alban Abu sad’un, Emir de Anégia, cavalgou até aos vinhedos do crasto no alto de Recardanes. Percorreu com o olhar toda a encosta até ao vale onde corria o Alfusqueda, acompanhou o trabalhos dos servos que cavavam a terra para o plantio de novas cepas e depois seguiu até as grutas na lapa vermelha na encosta sombria onde, aproveitando a frescura, o vinho era armazenado em talhas de barro escuro.
Aquelas vinhas eram do tempo em que os romanos ocuparam a península ibérica e produziam um vinho branco aromático que fazia a delícias de quem o bebia o que muito satisfazia o Emir!
Olhando o rio imaginou como teriam sido esses tempos… e imaginou as galés romanas de velas desfraldadas rio acima até Anégia onde carregavam as talhas de vinho ou azeite, frutos e cereais e os levavam para outras paragens.
Estava nestas cogitações quando chegou até ele o guarda que mandara espiar Fátima!
Mafud contou o que viu na noite anterior e as suspeitas de que poderá ter havido algum encontro secreto dos dois jovens!
Alban Abu Sad’un ficou furioso, imaginando a possibilidades de sua filha vir a envolver-se amorosamente com um cristão e ordenou a Mafud que fosse ao Torreão avisar Fátima que o fosse visitar nesse dia ao crepúsculo ao mesmo tempo que descobrisse quem era o tal cavaleiro cristão?!
Alban Abu Sad’un, cofiando a sua barba espessa, estava no salão do seu palácio em El Sequins, quando Fátima acompanhado por duas aias o veio visitar como lhe tinha sido ordenado. O coração de Fátima batia célere como o de um passarinho, receosa de que seu pai algo tivesse descoberto sobre o encontro da noite anterior. No entanto o Emir manteve a sua posição semi-deitado no tapete sobre coxins e com a voz meiga mas firme dirigiu-se à filha dizendo:- “Querida filha sabes quanto gosto de ti… És a luz dos meus olhos e para ti só quero o melhor. Por isso sabes que não permitirei que levantes os olhos para qualquer outro homem, muito menos cristão. Estás prometida ao filho mais novo do Califa de Córdoba e só com ele permito te cases!”
“Mas meu pai eu nunca vi esse homem! Não sei se gostarei dele e ele de mim!”, retorquiu Fátima com a voz embargada pela comoção!
“Está dito! Só casas com aquele a quem foste prometida! Seria uma desonra para a nossa família se faltasse a essa promessa e se me desobedeceres eu morrerei de desgosto e lançarei sobre ti um encantamento!” - finalisou o pai, escondendo a cara com as mãos e caindo no silêncio.
Fátima banhada em lágrimas saiu do salão amparada por suas aias!
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6.Episódio
Conquista de Montemor…
O exército cristão marchou para sul ao encontro das hostes do Vizir Zuleido Ibn Zafran e a peleja deu-se já com a Alcáçova de Montemor à vista. Embora a mourama fosse em maior número a destreza da cavalaria do exército cristão com manobras de ataques flanqueados deu-lhes a vitória não permitindo que as tropas do Vizir retrocedessem até ao castelo onde poderiam se reorganizar…
Entre as hostes muçulmanas estava o filho do Vizir, Oleydo Ibn Zafran, que tendo sido feito prisioneiro foi exigido ao Vizir que capitulasse e deixasse aquelas terras seguindo livre com suas gentes para além Mondego, em troca da libertação do filho e de todos os outros prisioneiros.
O exército colocou-se em posição estratégica junto as portas da Alcaçoba não permitindo entradas ou saídas suspeitas.
Só passado 5 dias o Vizir Zuleido Ibn Zafran vendo a determinação dos cristãos e porque os bens essenciais começaram a escassear dentro das muralhas e não havendo hipótese de ser fornecido do exterior, aceitou a vitória cristã e assinou a rendição e as condições em que abandonaria aquelas terras.
Na verdade o ataque do exército cristão havia sido tão inesperado que não deu tempo ao Vizir de se precaver para o caso de poder sofrer um cerco demorado.
Entre as condições de capitulação a possibilidade do seu povo, os que se encontravam estabelecidos e há décadas se dedicavam à agricultura na região, pudessem permanecer. Tais condições foram já assinadas pelo novo Alcaide de Montemor, D. Bermudo, sobrinho do Abade João do Convento de Lorvão, que lhe deu toda a proteção e garantiu a vassalagem dos cristãos de Coimbra.
O séquito do Vizir, constituído por familiares, servos e alguns guardas abandonou a Alcaçoba e rumaram a sul na busca da proteção de qualquer outro súbdito do Califado de Córdoba.
Entre os vencedores estava o nosso Lovendo Ramires que não cabia de contente, mas ao mesmo tempo de desejo de regressar às terras de Anégia e voltar a ter a felicidade de ver a dona do seu coração - Fátima!
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- Episódio - A Fuga…
No salão da torre Elba tangia o seu alaúde acompanhando Lídia numa bela melopeia. Fátima alheia a tudo isso ansiava por notícias do seu amado. Duas semanas eram quase volvidas… a Festas das Luzes seriam daí a dois dias e nada sabia de Lovendo.
Sabia que tinha ido para sul com o exército cristão mas desconhecia do perigo de vida em que incorrera no seu envolvimento na feroz batalha contra o Vizir de Montemor a escassas 10 léguas de Anégia!
De súbito Zaya aproximou-se dela e segredou-lhe algo que lhe agradou e até a enrubesceu!
Em verdade a margem do rio Alfusqueda, onde o exército cristão havia acampado dias atrás, voltava a ter vida com o movimento de carroças e cavalos e a montagem de tendas. Era o regresso de parte do exército conquistador já que a outra parte havia ficado no castelo de Montemor às ordens de D. Bermudo.
Lovendo pediu a Romualdo para se aproximar do torreão e tentar chegar à fala com Zaya, a fiel serva de Fátima, e marcar um novo encontro pois urgia ver a sua amada e estreita-la em seus braços.
Assim aconteceu e o Bazar de Neida foi de novo o local de encontro do casal… e não vou aqui dizer o que ali aconteceu mas o certo é que os pombinhos não se cansaram de arrulhar…
Enquanto isso Zaya e Romualdo, que tão bem se entendiam, faziam guarda para que nada os surpreendesse.
Fátima contou a Lovendo dos planos de seu pai de a dar em casamento a um príncipe de Córdoba. Lovendo abraçando-a, sossego-a e disse que isso não iria acontecer porque iriam já para Portucale, no Reino de Leão, para o castelo de seu pai D.Ramiro e lá casariam. Inicialmente Fátima ficou assustada com a ideia e triste porque não queria abandonar o pai nem lhe causar mágoa, mas caindo na realidade compreendeu que seria a única saída possível para ser feliz já que seu pai por nada mudaria de ideias… o Emir não era homem para quebrar uma promessa feita, ainda para mais a seu primo o Califa de Córdoba!
Aproximava-se o dia da Festas das Luzes, uma de tradição islâmica que deu origem ao festejo dos Santos Populares… as ruas e as casas são iluminadas com lanternas e acendem-se fogueiras nas ruas!
El Sequins, o maior aglomerado muçulmano de Anégia, engalanou-se a preceito e havia música por todo o lado.
Lovendo combinou com Fátima que fugiriam na noite da Festa das Luzes quando todos estivessem envoltos pela diversão dos festejos.
AMORES PROIBIDOS (Ficção) 8. Episódio - A maldição do Emir!
Chegou o dia da Festa das Luzes…
Anégia e os aglomerados vizinhos: Al Meal, Bur Alya, Recardanes, Pay Edes e El Sequins eram um só clarão, tal a quantidade de fogueiras e festões acesos para o festival de luz e cor!
Por todo o lado havia música, bailarinas e saltimbancos…
Aproximava-se o auge dos festejos - a meia-noite - altura em que seria queimado o enorme mastro revestido de urze, rosmaninho e alecrim, que um mês antes, por altura do Festival do Madeiro, havia sido erguido no centro do largo principal em frente ao palácio do Emir Alban Abu Sad’un!
Zaya segurava a corda e Fátima passando o estreito postigo começou a descer por ela a parede do torreão. Em baixo Lovendo incentivava a sua amada na descida enquanto Romualdo segurava as quatro montadas escondido numa viela.
Tudo estava preparado para ter um feliz desfecho!
Mas a matreirice de Mafud, conseguiu ludibriar uma das aias e saber por esta que sua senhora tinha preparado uma trouxa com seus pertences, como se fosse de viagem!
Este foi avisar o Emir, ao mesmo tempo que o informava qual a origem do cavaleiro (Portucale no Reino de Leão, filho do Alcaide de Vieira, D. Ramiro) o que mais amedrontou Alban Abu Sad’un.
O galope desenfreado de cavalos sobressalto-os… Fátima estava já a meio da parede quando o pai apareceu e a vingança à traição da filha foi terrível… Alban Abu Sad’un lançou um grito dilacerante:
-“Filha ingrata! Desobedeces a teu pai fazendo-o cair na desgraça de todo o reino! Eu te amaldiçoo! Ficarás encantada e encerrada nessa torre para todo o sempre!
E cai do cavalo fulminado por ataque do seu impiedoso coração…
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Diz a lenda que Fátima foi transformada numa “Bicha-Moira”, metade mulher, metade serpente e viveu encerrada na torre para sempre!
A verdade é que ninguém mais a viu e diz também a lenda que ela só pode ser vista uma vez por ano, quando na noite da Festa das Luzes - Noite de São João - vem à fonte existente junto ao torreão mitigar a sua sede… e se um jovem a conseguir beijar o encantamento desaparecerá!
Diz o povo que todas as noites de São João, um vulto trajando vestes monásticas, visita a fonte à meia-noite na esperança de ver a cobra e poder beija-la para desfazer o encantamento!
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Epílogo…
Fácil será adivinhar o fim da história após um desfecho tão trágico!
Lovendo Ramires imerso em profunda tristeza regressou a casa de seus pais, o Castelo das Terras de Vieira, e dizem que, não conseguindo reagir a tamanha mágoa, entrou num convento…
Romualdo acompanhou seu amo e levou com ele a serva Zaya…
Anégia ficou em paz e em grande prosperidade dada a feliz coexistências dos povos árabes e cristãos…
……………….
Esta novela ficionada foi inspirado na lenda de Águeda:
“...que uma princesa foi transformada em cobra por causa de amores proibidos;
... que a cobra vive numa gruta de onde brota uma fonte, a fonte da Bicha Moira;
... que são as suas lágrimas que alimentam a fonte;
.... que a princesa só poderá ser desencantada por um jovem que, na noite de S. João, entre na gruta de onde brota a fonte e tenha a coragem de beijar a cobra para que esta retorme ao seu corpo de princesa.
... que todo o forasteiro que beber água da fonte do Botaréu ficará em Águeda para sempre.
São estes os “cacos” do mito que persistem nos “rumores”.”
Bibliografia:
A Bicha Moira em Duas Noites de S. João, de José Maria Vellozo – um extenso e sobrecarregado poema, escrito em 1847, em circunstâncias muito curiosas, e publicado em 1871 no semanário Escola Popular (n.ºs 36 a 49).
Mais recentemente o estudo da Dr. Maria da Conceição Sousa Vicente que nos diz:
“Foi articulando e reorganizando estes “fragmentos” da história que construí a minha versão da lenda d’ A Bicha Moira. Para que a lenda não se vá delindo(termo de Adolfo Portela) com o correr do tempo, decidi partilhá-la em livro com todos os aguedenses amantes do seu património. Será uma maneira de, todos juntos, irmos passando a lenda à frente, na esperança de que nunca se perca.”
Fontes:
Informações históricas e datas na internet e Wikipédia;
“Lendas de Portugal” de Gentil Marques (Editorial Universus -Porto 1962).
Desenhos:
Rabiscados pelo autor João Carlos Breda, com base em pinturas da época de autores diversos
João Carlos Breda
Fevereiro 2023
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