Fábrica do Outeiro
Ti-Domingos dava à bomba para encher o depósito de ar e o Sr. Antoninho Carneiro com a pistola pulverizava as peças simples, chamadas de molde: terrinas, bacias e bacios, travessas e uns modelos de jarra que diziam ser de igreja… eram as peças então fabricada na Fábrica do Outeiro…
- As pinturas eram simples e só mais tarde apareceu a louça decorativa, diz João Breda num escrito de suas memórias, a pedido, entregue ao Arq. Filomeno Carneiro.
E diz mais:
- Quando entrei para a Fábrica do Outeiro, em Abril de 1928, o que lá se produzia era azulejo e louça para uso doméstico com decoração simples…
E continua…
- Havia um caixeiro-viajante, o Sr. Ângelo Teles de Meneses, que pintava muito bem e foi autor de diversas placas com nome de ruas que ainda hoje se podem apreciar por Águeda e introduziu a pintura de pratos de cozinha, que dava para pendurar na parede, com motivos decorativos regionais e frases ou quadras humorísticas. Por volta de 1930 veio do norte um pintor, Sr. Albino Ribeiro, que já pintava decorações mais elaboradas entre as quais as da Cruz de Cristo e Caravelas que se mantiveram. Foi autor de um painel sobre Águeda que estava colocado nos urinóis debaixo da ponte!
E continua João Breda a desfiar as suas memórias:
- Em 1931 vieram de Aveiro os já consagrados pintores Francisco Pereira e Licínio Pinto e o filho deste Carlos Pinto. Os dois primeiros pintavam painéis de azulejos, e Carlos Pinto foi quem organizou a primeira secção de pintura decorativa do Outeiro! De início era apenas eu e ele os pintores da seção. Pintávamos modelos que trouxeram de Aveiro a par de alguns pequenos painéis e entretanto novos modelos foram criados. Em 1933 a Fábrica do Outeiro expôs numa feira em Lisboa no Palácio do Parque Eduardo VII, que tive o prazer de visitar e ajudar a expor e foi a partir de aí que peças da Fábrica do Outeiro foram aceites no Mandarim Chinês, loja de referência na Rua Augusta, o que originou boas encomendas e a necessidade de ampliar a secção de pintura e foram buscar pintores à secção de louça doméstica. Primeiro veio o Arcanjo Cruz, depois o Raul Ribeiro (Lanheses) e o Jorge Ala, o Bério , o Manué e o Elisio Pereira. Mais tarde o António Pereira, o Manuel irmão do Bério, o Manuel Miranda e o Manuel Ribeiro. Também havia a pintura de azulejos à estampa com o Eugenio Noronha (Furrico), o Vitorino e o Abílio e mais tarde o Albino. O Eugenio “Furrico” era também o vidrador.
Até 1978 a Secção de Pintura teve um grande desenvolvimento, vieram pintores da Vista Alegre, os irmãos Pacheco, e com a criação da escola de novos pintores captados pelo Arquitecto Filomeno Carneiro chegou a ter 40 pintores.
O Mestre Joao Breda ( Pintor Criador) reformou-se em 1978 como Encarregado de Secção, mas continuou a dar apoio até 1981 com 38 pintores a laborar nas Faianças do Outeiro.
Hoje, a Fábrica do Outeiro, mais tarde denominado Faianças do Outeiro, não é mais que uma saudade, mas as suas peças, painéis e louças decorativas, são eternas e é com orgulho que quem as possui as ostenta nas suas casas, em especial a gente de Águeda…
Notas à margem destas memórias de Mestre João Breda:
- Agradecimento à Dra. Ilda Maria Tavares, neta de Antoninho Carneiro, que fez chegar às minhas mãos o escrito de meu pai que proporcionou este post;
- Carlos Pinto, o impulsionador da seção de pintura decorativa, foi um grande amigo de meu pai e não é por acaso que me batizaram João Carlos!
- Fotos: a última um convívio da fábrica vendo-se em cima à direita Antoninho Carneiro (de boné) e João Breda em baixo à esquerda. As restantes mostram os primeiros pintores da seção de pintura decorativa em diversas ocasiões de convívio.
in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda
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