O Pão da Sopa dos Pobres…
Naquela casinha amarela da rua da Venda Nova faziam-se milagres… Tia Rosa “Floca” desdobrava-se pela Vila a angariar os produtos que haveria de encher a panela da Sopa dos Pobres em cada dia… corria ao mercado e apanhava tudo o que lhe podiam dar: batatas, feijão, cenoura, nabos, couves, etc… nos talhos recolhia ossos ainda bem guarnecidos com carne e as sopas saiam suculentas…
A dita casa além da cozinha e da sala onde eram guardadas as contribuições da Cáritas para as crianças: o leite em pó e aquele queijo de cor alaranjada, tinha um alpendre com uma mesa comprida com bancos corridos onde se reuniam os pobres para comer a sopa… e eram tantos!
Naquele almoço foi a sopa distribuída e o pão… o pão era o que mais preocupava o Padre Amilcar Amaral, tinha de ser pago ao padeiro e a dívida já era grande e não havia condição para continuar a pedir fiado…
Foi com esta mágoa que o Padre Amilcar viajou para Lisboa, onde teve de ir tratar da edição dos Catecismos de sua autoria.
Era Natal… Lídia e Argentina tratavam das lides domésticas em casa da avó Arminda, ouvindo a rádio… de repente, Lídia chamou pela Tininha e ambas escutaram um cântico de Natal cantado por um coral de Leiria e acharam-no tão lido e mavioso que logo o adoptaram como o cântico para irem Cantar os Reis nessa quadra…
Era o cântico Noite Feliz… Noite Bendita!
Nessa noite juntamente com a prima São e a Madalena (Balreira) foram cantá-lo à Sra Madalena Balreira que logo lhes fez um versos adequados ao fim a que se propunham… ir cantar os Reis para a Sopa dos Pobres!…
A primeira casa onde foram cantar foi a da tia Iva, mãe da prima São, que lhes deu 5 escudos… depois a casa da Sra Madalena e Chico Balreira, tendo este se aprontado a acompanhar as quatro meninas nas visitas seguintes… na além da ponte foram às casas das cunhadas Eugénia e Rufina (dos irmãos Novo)e logo a Casa da Ponte da Dona Maria Joana… Quando dali saíram estava a ponte cheia de gente que as vieram ouvir cantar e a partir daí toda essa gente as seguia para onde fossem para as ouvir… tão lindo era o cântico e belas as suas vozes!
A paragem seguinte foi na rua de Cima na pensão da Sra. Gia… todos os comensais tão agradados contribuíram e houve um (Enf. Da Escola Central de Sargentos, de nome Garraio) que se destacou e as quis acompanhar e as levou ao café Santos e ao café Jardim…depois outras casas se seguiram…e todos contribuíram para a Sopa dos Pobres…
A Esmeraldina abriu a porta da residência paroquial e em silêncio deixou as quatro entrar… depois foi chamar o Padre Amilcar aos seus aposentos… este havia regressado de Lisboa nessa tarde! Quando entrou na sala as quatro entoaram o cântico que ele escutou em silêncio… no final exclamou: “À suas “cabras” onde foram arranjar um cântico tão bonito”! (“Cabras”era o termo carinhoso que usava para tratar as meninas que o ajudavam nas coisas da Igreja)…
Então elas pegando no saco do dinheiro arrecadado com o Cantar dos Reis entregaram-lho dizendo: Senhor Padre aqui tem o dinheiro para pagar o pão da Sopa dos Pobres!
O Padre Amilcar Amaral com um lágrima a querer soltar-se agradeceu… a sopa dos pobres já tinha pão!
A partir daqui não mais se parou de Cantar os Reis na Paróquia de Águeda!
(Memórias da minha tia Maria Lídia Soares de Melo com 96 anos de idade…)
In retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda
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