“Do Barril à Venda Nova”… a revista…


 “Do Barril à Venda Nova”… a revista…


A noite estava agradável… Adriano e Arminda com as filhas mais novas pela mão, Lídia e Argentina, desceram de S.Pedro até à rua da Cancela e foram a casa da irmã Iva, que se juntaram ao grupo, incluindo a pequena Rosa, para irem ao ensaio no Pathé Cinema. 

A revista “Do Barril à Venda Nova” estava a ser ensaiada e o irmão José Pedro, autor das músicas, vinha de Aveiro, o que só por si era motivo de encontro familiar…

Puseram-se a caminho… subiram a rua da Fonte e a Venda Nova e depois tomaram a direção do Hospital Asilo Conde Sucena, pois o salão do Pathé Cinema, pertença da família Amaro, era ali mesmo ao lado.

Estávamos em 1934, no salão o movimento de músicos, actores, figurantes e acompanhantes era grande naquele princípio de noite.

Adriano na qualidade de elemento da Música de Águeda, tinha sido convidado pelo cunhado, assim como outros músicos, para integrarem a orquestra que acompanharia os musicais da revista. 


As divas de Águeda: Orquidia Flores e Laura Elvas exibiam os seus dotes vocais nos diversos quadros da revista… sob a direção de José Pedro Soares de Melo, autor das músicas e de Serafim Soares da Graça, autor das letras… Temas como “Águeda a Linda”, “Tendeiras de Águeda”, “Os Fuzis”, “Pastéis Folhados”, “Escola Central de Sargentos”… eram alguns deles…

Havia um quadro feito por crianças que cantavam a “Sopa Escolar”…onde a prima Rosa e outras crianças se exibiam com graciosidade…


O quadro de abertura da revista  era a “Alma do Marinheiro” onde Neca Carneiro aparecia sentado na proa de um barco!…


Com o desenrolar dos diversos quadros havia o enredo onde a jovem apaixonada (Orquídea Flores) cantava um fado…

“Tenho uma dor tão profunda

Cá dentro do coração

Quem me causou tanta mágoa

Nunca mais terá perdão”


O amor que a tinha abandonado era representado por António Brinco…

E dançava o rancho e cantava:

“Cantemos, sempre cantemos

E cantaremos sempre assim

Sempre a rir sempre a cantar

Que a alegria não tem fim”


E voltava o fado sob o olhar da avó da menina, a Ti-Águeda, representada pela Maria Luciana…


“Foi aqui neste lugar

Que o amor me apareceu

Aqui me ouviu cantar

O fado que compreendeu


E de novo dançava e cantava o rancho…


E nós encolhidas num canto, no fosso da orquestra, lá íamos assistindo a tudo deliciadas e embebecidas a ver o nosso pai a tocar o seu clarinete, dizia-nos a tia Lídia…


No fim do ensaio no regresso a casa, a convite de Joaquim Tavares “Candeeiro”,  para registar a vinda a Águeda do grande amigo José Pedro (Soares de Melo), la íamos à loja onde a doce Dona Zulmira nos oferecia os gostosos pastéis de Águeda e os homens bebiam uns branquinhos… 

E assim foram decorrendo as noites dos ensaios até que a revista “Do Barril à Venda Nova” saiu à cena com grande sucesso.


(Memórias da tia Lídia - Maria Lídia Soares de Melo - na altura com 8 anos de idade… hoje com 96 anos)


in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com

By João Carlos Breda

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