Vou a Além da Ponte...

Atravessando a ponte já estávamos em Recardães... do lado direito a casa da família Cabedo e Lencastre onde viveu a benemérita D. Maria Joana Soares Pinto de Mascarenhas Cabêdo e Lencastre (nasceu em Taveira Coimbra 1880 e morreu em Recardães 1960)...
Era a Além da Ponte com vários moradores e algumas oficinas de artes e ofícios... tanoeiros, latoeiros...umas vendas e tavernas, mais tarde um tamanqueiro...           e depois o início da camionagem com uma sociedade onde além do José Novo “o Azeitona velho” entrava o Dr. António Breda e o Canário da Rua de Baixo, em cuja oficina deflagrou o incêndio que originou o aparecimento dos nossos Bombeiros. Essa sociedade passou mais tarde para os dois filhos do “Azeitona Velho”, José Novo, os irmãos: Francisco e Antonio...  O “Azeitona velho”, José Novo, que tinha mais duas filhas: Maria da Conceição (“Quitas”) que casou com o Eugénio “Regedor” e a Eugénia que casou na Borralha com o “Pelotas” e emigrou para o Brasil.

Falando dos Tanoeiros, os Costa, vieram rio acima em alguma barca murtoseiro de Cortegaça ou Esmoriz...e por cá ficaram indo já em várias gerações e, tendo acabado o negócio das aduelas e pipas, continuaram nas madeiras dos móveis e com o correr dos tempos também nos electrodomésticos.
O latoeiro de Além da Ponte era o Sr. Albano, conhecido pela alcunha de “Chegadinho”, vá-se lá saber porquê!? Conta-nos um bisneto, pela boca de sua mãe que, dado a vila já ter vários latoeiros, como era o caso do velho Brinco, cujo filho herdou o ofício e esteve estabelecido na época mais recente nas escadinhas do Adro, por indicação de um familiar, que era oficial de diligências, terá sido encaminhado até Alvaiázere  onde se estabeleceu e veio a conhecer a futura esposa, D. Maria Alves dos Santos, conhecida por Dona Quitas...
Esteve por lá algum tempo mas as saudades da Além da Ponte e das águas do Botaréu fizeram-no regressar e a sua oficina fez escola, como foi o caso do Ti-João Latoeiro de Paredes que foi seu aprendiz. Da sua descendência lembro as filhas Eugénia, Madalena e Irene. 
Eugénia casou com o Chico “Azeitona” e teve dois filhos: Maria da Conceição e José Novo. Madalena casou com o Chico Balreira (marceneiro da Rua de Baixo) e teve duas filhas: Madalena e a Sãozinha. Irene casou com Alfredo Noronha (tamanqueiro) e teve um filho, o Carlos Alfredo. 
Foi também na Além da Ponte que viveu a família Rodrigues Pinto donde nasceu o poeta que cantou “Águeda-a-Linda”, Adolfo Portela(1866-1923) autor de diversas obras como “Orvalhadas” (1895) e “Águeda, crónicas, paisagens, tradições”(1903). Adolfo Portela, poeta e escritor, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo sido advogado e recebedor em Agueda e mais tarde no Fundão onde faleceu.

Ao largo da Além da Ponte vinha desembocar a antiga estrada medieval mais tarde Estrada Real vinda do Sardão...
Ali se faziam as feiras dos porcos, cujas varas vinham do Alentejo e iam correndo as diversas feiras... chegou mesmo a chamar-se o largo da Porqueira...
Por ali o Sr. Eugénio “Regedor”, que foi o primeiro comandante dos nossos Bombeiros, teve em tempos mais recentes a sua mercearia que antes existiu na Rua de Cima... Um pouco mais à frente o Sr. Moreira teve com seus filhos uma oficina de reparação automovel... e havia também o armazém de mercearia e torrefação do Sr. Marciano, que com a sua carrinha Wolkswagen corria a serra a abastecer as pequenas mercearias de aldeia...
Havia outros comércios e lembramos-nos do Sr. José Carvalho com o armazem de sucatas...
Às portas da vila assim era a Além da Ponte da freguesia de Recardães... 
Mais tarde com a abertura da estrada nova de acesso à ponte, novos comércios se estabeleceram: padaria, ferrador, drogarias, cafés e restaurantes, Bombas de gasolina, armazéns de bicicletas e motorizadas e parece que até houve uma ourivesaria...
hoje transformada numa ilha cujas potencialidades estão ainda por explorar...

in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda