Maldita coqueluche!

Saía eu disparado porta fora da cozinha para ir tossir debruçado na cerca de madeira que protegia a pequena horta do meu pai...

Afligia-se minha mãe, inquietava-se meu pai, e punha as tias e avós em cuidados... a tosse convulsa atacara-me e eu definhava de tanto tossir, com falta de ar e sem apetite para comer... 

Do Ameal de casa da “prima” Arcanja veio o xarope da piteira mas as melhoras ainda eram poucas...

A maleita provocado pela bactéria gram-negativa Bordetella afligia a garotada da época... era altamente contagiosa e transmissível através das gotícolas expelidas pela fala, espirro ou... tosse! Não havia máscaras... Mas entretanto chegou a vacina...


Meu pai procurava que eu ganhasse apetite e, por certo, por indicação do médico ( Dr. José Maria? Dr. Dionísio?...) lá me levava a passear para os pinhais para respirar o ar perfumado do eucalipto... mas o fastio não desaparecia e a merenda que minha mãe preparava quase regressava intacta! Lembro-me que um desses passeios foi até ao Cabeço da Ruiva, ali entre Paredes e o Casaínho!...




Mas o passeio que tudo mudou foi uma ida de comboio até Sernada do Vouga. Lá fomos no Vale do Vouga serra acima, sempre à janela para respirar o ar dos pinhais... Chegados ao destino fomos procurar um sombra no meio dos pinhais para a merenda... dessa vez o meu pai tinha levado duas sandes avantajadas de Leitão, compradas no forno do ti-Abel na Rua de Baixo... uma para ele e outra para mim... e não é que o apetite voltou e devorei as duas sandes!!! Meu pai nem se importou de ficar sem merenda ao ver-me a comer com tanta satisfação!

Terá sido o passeio de comboio e o respirar daqueles ares ou o resultado do xarope da piteira... o certo é que o apetite voltou e regressamos a casa em grande alegria!

A partir daí as melhoras foram evidentes e lá se foi a coqueluche...

E dizia meu pai: “um homem com fome até uma sandes de leitão come”!




in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com

by João Carlos Breda

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