Em busca do apelido Breda...
Assim, tudo nos leva a crer que soldados portugueses terão estado envolvidos na Tomada de Breda, cujo comando foi entregue por Filipe IV ao estratega genovês Ambrogio Spinola...
A serena Baía de Nápoles com a bela Capri no horizonte e o aterrador Vesúvio logo ali ao lado, era algo que Rodrigo levaria para sempre na recordação, agora que estava de partida com alguns companheiros de armas... Os anos começavam a pesar e só pensava em regressar a Portugal e às suas origens...
As notícias eram favoráveis! Após quarenta anos de jugo sob a bandeira dos Filipes de Espanha, reinava agora em Portugal D. João IV da Casa de Bragança. A queda do domínio espanhol deu-se a 1 de Dezembro de 1640... mas houveram fortes reações a que os portugueses resistiram e souberam responder como na batalha de Montijo(Badajoz) a 4 de Maio de 1644, no entanto a chamada Guerra da Restauração (de Portugal) ainda iria durar mais uns anos... Filipe IV de Espanha não desistia da coroa portuguesa...
Rodrigo tinha vindo para Nápoles numa das naus espanholas que transportou os soldados do exército português ... para ele, um rapagão robusto mas muito jovem, tudo aquilo era uma aventura e nunca pensou por ali permanecer tantos anos... Fora integrado num dos esquadrões de lanceiros portugueses da Guarda Napolitana nos primeiros anos do reinado de Filipe IV de Espanha ( Filipe IIII de Portugal). Com o decorrer dos anos foi subindo na hierarquia e tinha já o posto de capitão, ao que não seria estranho as participações em inúmeras lutas e batalhas da chamada Guerra dos Oitenta Anos onde a intervenção mais relevante terá sido a campanha nos Países Baixos que culminou com a Tomada de Breda...
Breda era uma cidade fortificada que sob o comando de Justin de Nassau, da Casa de Orange, vinha resistindo ao cerco do exército espanhol iniciado em Agosto de 1624, na esperança da chegada de reforços externos... No entanto os dotes de estratégia militar de Ambrogio Spinola não permitiram que tal acontecesse, cortando os caminhos a esses apoios, algumas vezes alagando terras e tornando impossível o avanço das tropas inglesas... a 5 de Junho de 1625 Justin de Nassau decidiu-se pela rendição sem mais derrame de sangue. Às portas da cidade Ambrogio Spinola aceitou a capitulação honrosa de Breda e recebeu a chave da cidade das mãos de Justin de Nassau (como tão bem retratou Diego Velasquez na sua pintura exposta no Museu do Prado)...
Foi uma das últimas vitórias de Espanha na Guerra dos Oitenta Anos.
O exército espanhol ocupou aqueles territórios mas no Tratado de Vestfália em 1648, que encerrou as guerras dos Trinta e Oitenta Anos, Breda foi cedida à República Holandesa.
O Esquadrão de Lanceiros Portugueses da Guarda Napolitana era tropa de elite e Spinola considerava-o como sua guarda pessoal... aquando da Tomada de Breda e no acto de entrega da cidade de BREDA, por Justin de Nassau a Ambrogio de Spinola, Rodrigo estava por perto e parece-nos que foi retratado por Velásquez junto do cavalo do seu comandante... O ter assistido aquele acto tão nobre, entre duas enormes figuras da história, sem vencedor nem vencido, vitória ou humilhação, marcou Rodrigo no seu íntimo que adoptou a partir daí esse apelido, passando a assinar Rodrigo de Breda.
Percorrendo a costa do mar Tirreno o grupo de cinco amigos, saíram de Nápoles e cavalgando empreenderam a sua viagem de regresso…Passaram Roma (Lazio), Siena, Florença, Pisa (todas três cidades na Toscana) e Génova (Liguria). Aí, fizeram uma paragem para homenagear o velho comandante, Capitão-General Ambrogio Spinola, conquistador de Breda. Sabiam que havia falecido anos atrás (1930) em Castelnuovo Scrivia, no ducado de Mântua, e aí pretendiam ir para visitar o seu mausoléu. Ali chegados procuraram informações e foram encaminhados para uma propriedade nos arredores onde estava o seu palacete rodeado de vinhedos. Os vinhos ali produzidos eram soberbos, o cultivo da vinha e produção do vinho era uma das paixões do velho General. Uma particularidade no cultivo e preparação dessas vinhas... os pés das suas cepas eram adubados com os excrementos da sua matilha de cães, animais de raça pelos quais tinha uma admirável afeição... Ali viveu a sua reforma dourada o velho comandante, que foi considerado um Grande de Espanha com o título de Marquês de Los Balbases, depois de tantas lutas palacianas e guerras. O seu mausoléu estava na capela continua ao palacete e para sua surpresa foram recebidos pelo próprio filho do General, Filippo Spinola (segundo Marquês de Los Balbases), que os conduziu a cripta da capela. Também ele, Filippo Spinola, era um Grande de Espanha, a gozar já a sua jubilação depois de ter comandado por anos a Armada Espanhola... Filippo extremamente orgulhoso por aquela inesperada visita dos cavaleiros portugueses, que tal como ele haviam servido às ordens de seu pai e participado na rendição de Breda e, que, antes de deixarem Itália, tinham vindo homenagear seu pai, ofereceu-lhes a pernoita e um lauto banquete, onde beberam dos preciosos néctares da propriedade e, tão agradado ficou com a visita que, na manhã seguinte, aquando da despedida deu a cada um deles uma bolsa com dez Filipes de ouro... Uma pequena fortuna!...
Prosseguindo a viagem percorreram todo o sul de França e antes de entrar no Principado da Catalunha, que tal como Portugal lutava para sair do jugo da coroa espanhola, pararam alguns dias numa pequena povoação que lhes despertou atenção por se chamar BREDA (Girona). Antes de entrar em Espanha queriam assegurar-se da forma e itinerário que deveriam seguir e estando a Catalunha em guerra, por certo ali encontrariam aliados que lhes dariam boas informações.
Para atravessar toda a Espanha e depois de ouvir bons conselhos de alguns catalães que bem conheciam o percurso até Portugal, rodearam-se de mil cuidados e lá seguiram... dormiam de dia bem acoitados e cavalgavam de noite e assim se acercaram de Badajoz... E Elvas era já ali...
Portugal continuava em luta com Espanha na dita Guerra da Restauração... Depois de vencidos na Batalha de Montijo, nas imediações de Badajoz, os espanhóis não desistiram e continuavam com os seus exércitos a rondar a fronteira para fazer uma incursão na primeira oportunidade, naquele Janeiro de 1659 cercavam Elvas…
No percurso daquelas ultimas milhas aperceberam-se de algumas movimentações militares espanholas o que os obrigou a um avanço mais demorado. Chegados as imediações de Elvas verificaram que esta estava cercada pelo exército espanhol, o que se mantinha desde Outubro de 1658...com todo aquele aparato, de imediato contornaram o cerco em busca do exército português a cujo comandante, D. Antonio Luís de Menezes, Conde de Cantanhede, se apresentaram, contando a sua história e o que tinham observado do lado das linhas espanholas, que muito interessou os generais portugueses e foram logo integrados num dos esquadrões de lanceiros e assim participaram activamente na Batalha das Linhas de Elvas naquele 14 de Janeiro de 1659, ajudando a romper as linhas espanholas e a libertar Elvas do maldito cerco.
A partir daí viriam a participar nas batalhas de Ameixial, perto de Estremoz em 1663 e Montes Claros, perto de Borba em 1665 até que a paz foi restabelecida e puderam de vez poisar as armas e regressarem às suas terras de origem.
Rodrigo rumou até Coimbra e subiu o Mondego até Lorvão, em cujo Mosteiro se quis penitenciar da vida errante que tinha levado… Numa manhã de sol radioso, subiu a Penacova e maravilhou-se com a paisagem do Mondego a seus pés...
Era preciso seguir a caminho das Terras de Mortágua... desceu ao Mondego e arranjou transporte para ele e seu cavalo numa barcaça de pescadores e la seguiu rio acima até onde o rio permitiu... depois seguiu serra acima... Já bem perto de Mortágua parou à beira de uma ribeira para mitigar a sua sede e a da sua montada e aproveitou para descansar à sombra de um sobreiro ... Passado um bom par de horas foi desperto pelo chocalhar dum rebanho cujas ovelhas e carneiros para ali vieram pastar...
O local era de um bucolismo perfeito e Rodrigo sonhou construir ali uma casa para viver até ao fim dos seus dias... uma ovelha mais atrevida aproximou-se dele mas logo uma voz feminina se fez ouvir num chamamento... olhou e viu a esbelta pastora...
O diálogo com a linda donzela, de nome Leonor, logo se estabeleceu e ficou a saber que aquelas terras era de sua família. Rodrigo pediu que o levasse até seu pai pois queria fazer-lhe uma proposta. E assim Rodrigo de Breda negociou a compra daquele rincão junto à ribeira, que sendo apenas conhecida por ribeira das pastagens, ele batizou de Ribeira de Breda...
No acordo de compra ficou estabelecido que o rebanho de Leonor poderia continuar a ir pastar nas margens da ribeira e enquanto Rodrigo se dedicava à construção da sua futura casa ia tendo a alegria de ver a linda Leonor e não tardou que se decidisse a ir pedi-la em casamento ao velho Luís, seu pai... a diferença de idades era grande mas atendendo ao porte e educação do cavaleiro o velho lavrador aceitou, até porque o dote em moedas de ouro era aliciante...
Ao lado da casa, Rodrigo construiu um estábulo com oficina de ferrador, ofício e arte que havia aprendido no Esquadrão de Lanceiros na longínqua Nápoles e a isso passou a dedicar os seus dias não lhe faltando freguesia... Mais tarde os filhos seguiram-lhe os passos...
E lá casaram, foram felizes e tiveram quatro filhos: dois rapazes e duas meninas... Rodrigo morreu de profícua idade rodeado dos filhos e da doce Leonor...
A descendência por ali ficou nas margens da Ribeira de Breda, afluente do Rio Criz, que mais là para a frente engrossa o leito do Mondego... e um pequeno povo foi por ali se desenvolvendo...
João Carlos Breda
Dezembro, 2020
Reservados os Direitos de Autor
Nota do autor: A história do Rodrigo (Rodrigo de Breda) é pura ficção mas os dados históricos aqui referidos são verídicos, conforme pesquisa na internet (Wikipédia) e outros autores.
Dados bibliográficos: livros Reis de Portugal: Filipe II (autor Fernando Olival) e Filipe III (autor António Oliveira) do Círculo de Leitores.
in retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com
By João Carlos Breda
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