... um conto de Natal...
A avó Teresa aguçava o lume da lareira...
Ao lado uma frigideira negra do fumo fritava os bilharacos que a tia Eugénia amassara nessa tarde. Como era tradição apenas usou abóbora, que a irmã Assunção lhe havia dado da sua horta de Alagoa, e farinha, juntando-lhe um ovo com a clara batida em castelo para amaciar a massa...
Os rapazes entraram porta dentro com o cântaro de água que tinham ido buscar à fonte junto à porta dos Paços do Concelho e começaram a tagarelar acerca do último ensaio do Orfeão e da récita que no dia de ano novo seria levada à cena no Cine-Teatro pela mão do Neca!
Na torre da Igreja o sino bateu as oito badaladas. Estava na hora da janta naquela noite de consoada...
A tia Eugénia trouxe para a mesa a bacia de louça com as fumegantes couves, batatas e nabos... e depois as pequenas e finas postas de bacalhau e quatro rabos de sardinha salgada...
A tia Eugénia fez a distribuição pelos quatro pratos e com geito regou-os com um fio de azeite, não sem que antes os rapazes pusessem nos seus pratos um dente de alho cortado em pequenos pedaços...
A avó Teresa como habitual queria comer sentada à lareira com o prato no regaço...
Por ser noite de consoada os rapazes insistiram com ela para que viesse para a mesa e puseram o seu prato no lugar a ocupar...
A avó estava renitente mas dada a insistência dos dois netos lá se decidiu a ir para a mesa...
Sentaram-se todos a volta da mesa e para espanto de todos e da avó Teresa o seu prato havia desaparecido!
“Onde está o prato com a comida? “ - exclamaram!
Responde a avó Teresa sorrindo: “no meu regaço, que é onde ele gosta de estar e donde não deveria ter saído! Desculpem lá mas volto para à lareira”!
Na verdade, quando a avó Teresa se ia a sentar encostou a barriga à beira do prato e este virou-se para o regaço!
Foi motivo de riso a volta da mesa nessa noite de consoada...
Depois comeram-se os bilharacos polvilhados com açúcar amarelo e canela e foram acompanhados com um cálice de vinho fino...
Tempos difíceis... tempos de míngua... mas houve Natal e à meia-noite foram à igreja ali ao lado à Missa do Galo, adorar o Menino Jesus recém nascido e cantar:
Glória in excelsis Deo!
(Memórias contadas em vida por meu pai João Breda... passadas em casa da Tia Eugénia (a madrinha do Adro) com quem foi criado com o primo Álvaro e a avó Teresa...)
João Carlos Breda
Fiquei maravilhado com a sua imagem que ilustra a lareira dos meus avós algures entre Mondim de Basto e Amarante nos idos anos 50
ResponderEliminarSerá que o meu amigo e "camarada Guiné 1972 " me deixa publicar na minha Página e claro aludindo o nome do autor
Abraço
Concerteza amigo!
ResponderEliminarTenho dois companheiros de armas dessa zona: Silvino Mais de Celorico e o Fernando Barbosa de Fermil!