Revivendo...
O sol de inverno aquecia aquela manhã de Dezembro... O Natal estava a chegar e as ruas da cidade animavam-se já com os transeuntes atarefados nas primeiras compras natalícias...
Sentado na esplanada da Trigal esperava o café e o Pastel de Águeda que havia pedido e perdia o meu olhar naquele mar de anémonas brancas, que mais não eram do que os guarda-chuvas brancos que ornamentavam a Rua Luís de Camões numa decoração “sui generis”...
De repente vi Águeda da minha meninice... ali Casa Coelho, onde eu ia comprar a goma arábica para colar os cromos da bola... a seguir o Barão do Souto do Rio, aqui o Águeda Elegante, retrosaria e alfaiataria do Sr. Lé Matos, ao lado a loja de fruta da Sra. Lurdes onde ia comprar 5 tostões de rebuçados de jogadores... Aqui Em frente a Loja da Sra Anita Brinco, onde minha avó comprava a mercearia e onde o Ti-Zé Breda tinha a sua branquinha de relojoeiro... e ao lado a venda de tecidos e afins da família Telha onde minha mãe comprava a fita de nastro, o elástico... e nas escadinhas o ti-Brinco latoeiro...
Na esquina, a Farmácia Vidal onde o Sr.Loureiro nos atendia pacientemente, e logo a seguir a Casa Candeeiro, mercearia fina, na altura já pertença do Sr. Hernâni. Logo a cima a Papelaria Euclides e em frente desta o Fontanário da Romanis Aeminium (hoje na Praça do Município). Ao lado direito da fonte o portão do antigo edifício da Câmara Municipal e entrando tínhamos a Tesouraria à esquerda e as Finanças à direita... e que balcão alto tinha as Finanças.
Continuando pelo exterior e pela direita da Rua Fernando Caldeira no sentido ascendente, encontrávamos o gabinete do Regedor onde o ti-Zé Breda teclava na velha máquina de escrever Royal sem parar e com o morrão do cigarro a cair-lhe nas teclas!... Depois aparecia a Pensão Negrão e logo acima antes do Cine-Teatro, o gabinete de advogado do Dr. Cruz Nunes... meu professor de Francês e Português, que ficou surpreso por eu ter tirado 16 na prova escrita de Português e dispensado à oral! Que sorte! Acho que não! O segredo esteve na redação de uma boa composição e de uma boa carta comercial, já que a gramática não era o meu forte...
Voltando ao Cine-Teatro... tantos filmes lá fui ver... lembro-me de um em especial “Forte Álamo”, talvez o último antes do “Piolho” ser demolido...
E as récitas da escola primária? Participei em duas... lá ensaiadas e levadas à cena!
Em frente ao Cine-Teatro havia a alfaiataria do pai do Carlos Alberto e um pouco a cima a loja da Singer, que fazia as delícias da pequenada com seus brinquedos e onde pela primeira vez vi os LEGO (década de 60).
Fui desperto deste viajar no tempo pela chegada do café e do pastel... reclamei este último pois mais parecia uma miniatura... eu queria um Pastel de Agueda! A menina lá se desculpou dizendo que não era fabrico da Trigal e a fornecedora lhos trazia assim!!!
Tive de me contentar, a qualidade era óptima mas não fiquei satisfeito... os que a D. Angela Breda fabricava nas formas de ferro na sua residência em frente à antiga Escola Industrial e Comercial de Agueda, ali na curva da subida para o Adro eram do tamanho original. E lá estava eu a reviver de novo a Águeda que conheci na meninice...
Nessa escola fiz o primeiro ano do ciclo, depois de ter frequentado a primária no Adro, com a Prof. Maria João Lima na primeira classe, o Prof. Craveiro na 2. e 3. e por último, na 4. Classe a Prof. Isabel, que vinha de Aveiro no comboio e que nós muitas vezes desejávamos tivesse um “furo” para não termos aulas!... O exame da 4.Classe e o de Admissão ao Ciclo Preparatório foi na velha Escola do Adro onde vinham todos os alunos do Concelho para o mesmo fim...
Ali na subida, antes da casa do benemérito Dionisio Pinheiro, rico comerciante de tecidos na cidade do Porto, ficava a casa da Tia Eugénia onde eu, nos dias invernosos de chuva, ía comer a sopa com o Zé Francisco, para não termos de ir a casa e apanhar uma molha... A Bicha-Moura era tão longe!
Entretanto chegou o amigo Canas e começamos a falar do Bolo de Santa Eulália, o Bolo de Natal de Águeda... a sua origem vem de um receita de Tavares Candeeiro (Casa Candeeiro) é parecido com o bolo inglês mas com diferenças no seu formato oval e no receituário. Era um bolo que estava esquecido na memória de Águeda e a Confraria Enogastronómica Sabores do Botaréu em boa hora teve a iniciativa de o relançar com um concurso em 2012 junto das Pastelarias de Águeda... Ganhou a Trigal e neste momento são cinco as pastelarias a confecioná-lo para prazer de todos nós...
E remato esta lembrança de Águeda antiga, porque o Carnaval se aproxima, com um salto à Praça Velha (Conselheiro Albano de Melo) onde na esquina da Rua Luís de Camões a seguir à Farmácia Alla existia o Bazar Gomes... Era o local onde comprávamos as serpentinas, os confettis e demais adereços alusivos ao Carnaval.... Velhos tempos!
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